Histórias cruas, rudes,
Vidas em desalinho expostas,
Contos Grunges são.
Sofrimento e sujeira da vida cotidiana.
Era sábado, eu havia acordado com uma ressaca dos diabos, estava completamente pelado em minha cama e ao meu lado, também completamente nua uma amiga minha. Havíamos fodido uma boa parte da noite, eu era um garotão... Virei-me na cama e fiquei olhando seu rosto, ela dormia tranquilamente, levemente coberta por um lençol, eu não tinha dúvida olhando aquele rosto que eu havia lascado com mais uma boa amizade, esse era eu, fodia com tudo no final das contas, isso me tornava um perito em foder e foder cada dia mais com a minha vida, se eu não me afastasse das pessoas pela minha grosseria eu me afastava de outros modos, e com a Laura eu iria me afastar pela Copulada que tivemos na noite anterior. A noite anterior... Eu trabalhava longe pra burro do mundo, morava na nove de julho, perto de tudo e de todos os empregos do mundo, menos do meu é claro, alguém que nasce e vive uma vida sofrida, não pode querer benefícios aos 30 anos, pois bem, trabalhava longe pra cacete, mas meu telefone naquela sexta não parava de tocar, vibrar e tudo que uma bosta de telefone móvel pode fazer, desci para fumar, tendo meus 10 minutos de paz do escritório... Vários amigos iriam se encontrar no Green Bar, um bar na Consolação em pleno cérebro da Avenida Paulista, eu vivia indo aquele bar, e ver meus amigos iria me fazer um bem danado, não tinha tido tempo, vida, e estava totalmente cinza nos últimos meses, minha vida não tinha a menor graça, eu estava completamente algemado em um trabalho que não gostava, em uma rotina que me consumia completamente e que estava acabando com a pouca saúde que me restava, vivia de mal humor, ficando doente e meu corpo implorava por descanso enquanto minha mente suplicava por liberdade. Enfim, resolvi responder as mensagens dizendo que iria. Sai o mais perto do meu horário, peguei o fretado que me deixava na paulista e encontrei os amigos, não via quase ninguém já fazia um bom tempo, entre abraços, conversas, risadas e cervejas, acabei ficando com a minha amiga Laura, bebemos, fumamos e rimos e fomos embora para minha casa e não teve outro jeito que não foder, fodemos como se não houvesse mais sexo no mundo, como seres primitivos e agora, olhando para o rosto da Laura, eu sabia que, muito provavelmente nunca mais seria a mesma coisa entre a gente, ela era o tipo de pessoa que não conseguia viver com aquela situação e eu sabia disso no momento que lhe dei um beijo e há levei para meu apartamento, troquei a amizade pelo mais puro instinto animal, o acasalamento. Laura, abriu os olhos, me olhou eu olhei de volta, ela sorriu. - Bom dia. Ela me disse. - Bom dia. - Que horas são? - Não faço ideia, acabei de acordar. - Mentiroso, hihi, estava me velando seu puto! - Meus olhos abriram agora Diabos, acho que era você quem me velava. - Besta, para de ser mentiroso. Deu-me um beijo. - Nada como beijos matinais, bafinho tremendo e carinho, gosto disso. Ela riu e se levantou, estava nua, era linda, começou a vestir a calcinha, pegou a bolsa e foi ao banheiro, eu estava com o pau em riste, pensei em bater uma punheta, mas aquilo seria depreciar a minha noite, optei por apenas ficar olhando o teto e esperar minha piça sossegar. Ela voltou, eu continuava deitado, começou a se vestir e tagarelar sobre algo que eu não tinha certeza, sabia que aquele seria um nos nossos últimos bons momentos juntos, queria apenas ver o seu sorriso, éramos amigos e eu gostaria que apenas continuasse da mesma forma. Levantei, nu, deprimente, homens são terrivelmente feios perto de mulheres nuas, aquele troço pendurado, pelos, barriga, bunda geralmente negativa, tudo isso era muito feio, vesti minha cueca e fui ai banheiro, fiz quase todo o ritual, lavei o rosto, escovei os dentes, dei uma bela cagada, me limpei e dei descarga olhando para o vaso, vendo meus dejetos irem embora de forma melancólica, lavei minhas mãos e sai do banheiro. Fui direto para sala, precisava de um cigarro, Laura já estava totalmente vestida e falava ao celular, acendi meu Lucky Strike e tossi, uma tosse forte, pensei que meu pulmão poderia abandonar o meu corpo a qualquer momento, o catarro subiu e eu quase vomitei, fui mais forte e engoli tudo, respirei e dei mais um tragada, pronto, novamente venci meu pulmão... Troxa! Laura foi embora, fumei mais uns três ou quatro cigarros. Fiz café e tomei banho, eram 14hr30, havia faltado no trabalho e foda-se, precisava viver e estava muito cansado, iria para casa de um amigo na nove de julho mesmo, o Escobar, colega do meu antigo trabalho, ruivo e com uma bela barba, bebíamos muito quando juntos e nos tornamos muito amigos depois que passamos a morar na mesma avenida. Convivemos por quase dois anos somente falando o básico, trabalhávamos na mesma empresa, ele continuava lá, eu não. Éramos de setores diferentes, andares diferentes e nos encontrávamos geralmente no fumódromo, sabia onde ele morava, e quando me mudei, passamos a fazer visitas frequentes um para o outro, a intenção era deixar o tempo passar e bebericar o que pudéssemos, ele salvava os meus domingos e fodia minhas segundas, pois bebíamos como se o outro dia fosse ainda um dia de folga e repouso. Naquele dia iriamos beber feito adultos maduros em pleno sábado e meu domingo poderia ser do mais belo e justo repouso, iria fazer meu corpo descansar, palavra! Fui ao mercado, peguei uma garrafa de Vodca e uma caixa de cerveja, coisa justa para o caralho para iniciarmos. Fui caminhando em passos lentos, era sábado, havia matado o trabalho e não estava com pressa, iria beber e precisava ter os meus minutos, fui caminhando de forma sutil a avenida, olhando os mendigos, os carros, os ônibus indo sentido Terminal Bandeira, tudo ali cheirava a vida e a urina, eu amava o centro de Sampa. Cheguei em frente ao prédio do Escobar, estava fumando, o frio era o dominante daquele dia, estava bom, eu tinha em minhas mãos, cervejas, vodca e 2 maços de cigarros, a vida realmente estava sendo boa comigo naquele sábado, iria beber para esquecer o emprego, esquecer que perdi uma boa amiga, esquecer minhas contas, meus relacionamentos que deram merda, e foram vários, minha saúde e todo o diabo que pudesse apagar, toquei no apartamento dele, a porta se abriu adentrei o saguão, chamei o elevador e em instantes o elevador chegou, subi. - Alou – disse o Escobar ao ver eu entrando. - Como está meu velho? - Bem, estava com saudade da sua cara feia e do seu pessimismo - Vai se foder. – Eu disse com o dedo em riste. - Você está com uma cara de ressaca da porra. - Man, não vou entrar em detalhes sobre ontem, só caguei algo que não deveria cagar. - De novo né! - Sempre meu velho. Guardei às cervejas na geladeira e abri uma lata, acendi um cigarro e fui para sua sacada, ele morava no 13º andar, fui para sua sacada, à vista era sensacional, fiquei fumando e vendo o centro de São Paulo por cima, eu era o baluarte da sabedoria, era quem podia tudo e nada ao mesmo tempo, eu era o sim e o não, era a confusão, a desgraça e a vida, por mais que sabia que havia cagado e caído por cima me rolando, me sentia bem, me sentia muito vivo. Havia algumas pessoas na casa do Escobar, todos bebiam e riam, todos estavam felizes, era sábado, e o sábado é definitivamente um dia de felicidade, todos estavam ali para conversas e para se embriagar, todos queriam viver e esquecer suas vidas, suas contas, seus problemas, essa era a grande vantagem dos sábados, fingimos que nada acontece para que aconteçam coisas boas. - Escobar. – disse uma menina do sofá. - Fala ai, Monica. - O que você acha sobre a crise no país? - Ao diabo com a crise, tenho tudo que preciso, estou pouco me fodendo. - Você não se importa com os outros? - Ele não se importa com nada desde que seu bigode continue apontando para lua. – eu disse interferindo na conversa. – Vou pegar mais cerveja, alguém quer? Todos responderam que sim, praguejei por ter oferecido. Fique por lá mais umas 4 horas, resolvi voltar para casa, já havia bebido quase tudo que podia um ser humano beber por uma vida e não estava nem um pouco disposto a cair de bêbado ou vomitar, me despedi de todos, Escobar foi comigo até a porta. - Meu velho, ainda quero saber o que aconteceu, você não chegou aqui me contando tudo. - Relaxa, eu te falarei sim, só que hoje não, deixa para outro dia. - Você sabe que sempre estarei por perto. - Sim, somos alma gêmeas do álcool. Ele fechou a porta, chamei o elevador, esperei uns 2 minutos, e desci, caminhei pela nove de julho sentido meu apartamento, ainda era sábado e eu não estava mais nem ai para porra nenhuma.