segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Dirley e o passeio no nordeste.

- Porque você precisa ser sempre um merda prepotente? - disse Rafael com aqueles olhos esbugalhados e cara sofrida.
- Vai tomar no cu seu monte de merda.
- Você é cheio dessas Marlon, arrogante, se acha melhor do que todo mundo!
- Eu não sou melhor do que todo mundo, sou melhor do que você, apenas você, seu cretino! – disse apontando o dedo indicador em direção ao seu rosto.
- Porra, vocês sempre tem que brigar, coisa chata, se for pra ser dessa forma, prefiro que vá embora da minha casa.
- Sossega seu facho Pedro, eu estou apenas expondo minhas opiniões musicais, Green Day não é uma banda decente na minha opinião. E eles fazem músicas para retardados. – teci meu comentário de forma áspera.
- Você se acha o dono da verdade e pensa que conhece todo o mundo musical. Me passa o vinho!

Passei o vinho pro Rafael, peguei um palito de dente, furei um pedaço de queijo e um de presunto cortado em cubo e levei a boca, enquanto mastigava de boca aberta olhando para ele com a fulminação no olhos.

- Estou indo embora Pedro, não da para simplesmente ter um bom papo quando o Marlon está por aqui.
- Não precisa ir embora Rafa!
- Cansei dele, só você aguenta esse sujeito.
- Já vai tarde. – disse levantando as mãos para o céu em sinal de louvor.
- Quem vai embora é você Marlon, o Rafael fica!
- Sem problemas, fiquem ai e se chupem. Estou pouco me fodendo para vocês seus bostas.

Peguei minha jaqueta, tirei meu iPod do dock station, o silencio tomou conta da sala, ficamos nos olhando brevemente, virei as costas fui a cozinha, peguei duas latas de cerveja, coloquei uma no bolso, e abri a outra, dei uma boa talagada. O silencio continuava a reinar, olhei para os dois, dei mais um gole na minha cerveja. Mostrei o dedo do meio, fui em direção a porta, abri e sai, deixei a porta aberta e matei a cerveja, joguei a lata para dentro do elevador. Chamei o elevador, esperei um pouco, fiz um esforço para tentar ouvir algo lá dentro porem o silencio continuava a reinar. O elevador chegou, abri a porta e entrei, apertei o térreo e desci, na rua abri a outra lata, acendi um cigarro e fui até a estação mais próxima.
Peguei o metro na estação São Judas, rumei para o Paraíso pensando no que faria, tinha algum dinheiro, alguma coisa eu faria, coloquei o fone de ouvido e comecei a escutar Wolfmother.
Cheguei ao meu destino, ainda não sabia ao certo o que fazer, desliguei o meu iPhone e sai em direção a Rua Domingos de Moraes, na esquina da Eça de Queiroz tinha um bar aberto, tocando musicas bregas nordestinas, me encostei no balcão.

- Me da uma Skol.
- Tem que pagar primeiro xodó.

Odeio quando esses caras me chamam dessa forma, peguei minha carteira, tirei uma nota de dez e entreguei pra ele.
Ele me trouxe uma garrafa de Skol e duas notas de dois reais bastantes sofridas, me servi e fiquei olhando para a cara dos pobres coitados que estavam naquele bar, calças cheias de bolsos, camisetas floridas, orelhas de abano, brincos dourados, luzes nos cabelos, eles eram muito feios, aquilo me constrangeu. Era um bar tipicamente nordestino, com músicas ruins, garçons com cabeças chatas e pratos típicos que fedem a merda de bode. Dei risada, da casa do Pedro para aquela espelunca, que extremo desagradável, e tudo culpa daquele verme do Rafael
Tomei mais um gole da minha cerveja, desceu bem, um cheiro doce passou ao meu lado, cheiro de perfume de prostituta barata. era uma garota muito gostosa, rebolava o traseiro de forma magica, tinha os cabelos lisos e bem pretos até a cintura, usava um vestido vermelho e salto alto, e sabia muito bem rebolar aquele traseiro. Olhei, foi inevitável, não consegui disfarçar. Ela foi ao guichê de cigarros, comprou um maço de Dallas e voltou, andando em minha direção, fiquei olhando em seus olhos, era bonita a filha de uma quenga. Ela passou por mim e eu acabei pensando alto.

- Babe, você é muito boa.

Ela me olhou, me mediu de cima a baixo e me fulminou com os olhos. De certo não gostou de mim, eu sorri enquanto ela ainda me olhava e dei uma piscada.
Ela foi correndo para um lado do bar que eu não conseguia visualizar, aquilo me botou medo, se ela fosse chamar alguém eu poderia me foder, eu olhava para a frente e só via homens de um metro e meio, e me sentia bem forte, mas já havia ouvido muita coisa sobre como eles riscam suas facas em barrigas de pessoas honestas e boas como eu. Virei minha cerveja o mais rápido possível, não iria ficar ali para descobrir nada, assim que tomei o ultimo gole de cerveja do meu copo e me senti aliviado por poder ir embora ouvi uma voz horrível as minhas costas, um sotaque de merda.

- Dirley, foi esse homi que se ingraço para cima deu.

Me virei, e vi o Dirley, um rapazote de quase dois metros, forte, bem branco, com os cabelos pretos penteados para trás, uma camisa de linho, calca social e sapato, um belo pedaço de carne que me amedrontou com os olhos verdes frios que me lembrava a morte.

- Ai rapaiz, você si engraçou com a muié errada. disse o belo pedaço de carne com uma voz fina e sofrida.
- Me desculpe Dirley, não sabia que... - tomei um tapa no ouvido direito, meu pescoço foi jogado para o lado como se fosse papel,  senti a quentura no rosto e um zumbido começou a ecoar no meu ouvido, antes de pensar em qualquer coisa, tomei outro do mesmo lado, dessa vez me desequilibrei e cai, pensei que meu pescoço iria quebrar e cai feito uma laranja cai da gondola do supermercado.

- Issu amo, bati nele.
Aquela vadia continuava a incitar para que o belo pedaço de carne continuasse a me demolir, já não bastava ter me deletado para ele, já não bastava os dois tapas na cara. Tomei um chute na cara com o bico daquele sapato, senti minha boca estourar, o gosto de sangue foi imediato, me senti tonto e quase desmaiei.

- Chega Dirley, isso vai dar sujeira pro meu bar, joga esse bosta lá pra fora e mande ele ir embora.

A voz do que eu presumi ser o dono do bar me soou doce só de ter ouvido a palavra "chega". Senti dois homens me levantar, eles me jogaram em cima de uma banca de jornal que tinha ao lado do bar, minha testa bateu na porta da banca com muita força. Fiquei alguns minutos deitado, pensava que devia ter sido mais educado com o Rafael na casa do Pedro, estaria nesse momento, seguro, quentinho e bêbado e o mais importante, inteiro.

Levantei, cai para trás e bati as costas na banca, senti um fisgar em todo o corpo, quase desmaiei, sai andando em direção a Ana Rosa, nem reparei se alguém me olhava do bar, só queria chegar em casa logo. O caminho que era curto parecia uma eternidade, finalmente cheguei ao meu prédio, acenei para o porteiro e entrei. Chamei o elevador, abri a porta, entrei, apertei o botão de quarto andar, subi, cheguei, abri a porta, desci, abri a porta do meu apartamento, fechei, fui para o banheiro, minha cara estava destruída, estava roxo, com os lábios estourados, olhei meus dentes, estavam lá, sorri de leve, lavei a boca, uma lagrima escorreu do meu olho, doía muito. Tirei a blusa a camiseta, fui a geladeira, peguei a garrada de vodca no congelador, fiz uma baita dose, virei tudo, fui para o sofá, liguei a TV, estava passando um programa de entrevistas e variedades de merda, assisti até pegar no sono. Aquela noite sonhei que estava passeando no nordeste.

3 comentários:

Felipe Muniz disse...

HAHAHAHAHA! Grande Marlon! Estava com saudades dos seus contos, seu fí d'uma égua!

Amanda disse...

Sempre excelente!

Lixo disse...

Muito justo.