quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Max Wilson parte II

Finalmente tinha tido minha grande chance na vida, iria entrevistar o grande escritor brasileiro Max Wilson, escritor e pintor, seu último romance havia vendido um bocado de livros, Max Wilson era o escritor da moda, o retorno do “beat”, a forma maldita de se escrever, eu tinha todos os seus cinco livros publicados, e Max Wilson sinceramente havia feito a minha cabeça de alguma forma, sua escrita simples, seus delírios e tudo mais haviam modificado a forma de muitos pensarem o que é realmente literatura. A revista em que trabalhava tinha uma forte circulação nacional, e eu havia sido incumbido de entrevista-lo.

Durante a semana que antecipava a entrevista eu estava nervoso, preparava minhas perguntas e sentia medo dele me achar um completo inútil. Bem foda-se, seja o que Deus quiser, fui para o bar depois do expediente todos os dias e aliviava a tensão regrada a bebidas e cigarros.

O dia finalmente chegou, iria da minha casa direto para a dele, eu morava em Osasco, ele morava na Vila Mariana, fui de carro, tive problemas para achar o endereço, depois tive mais problemas para achar um lugar para estacionar, tinha um Uno Velho, caindo aos pedaços, mas não queria ser furtado de forma alguma, não tinha dinheiro para comprar outro carro, então tive que deixar num estacionamento a quase quatro quadras do prédio do meu herói e desembolsar 20 pratas por 3 horas, iria ser reembolsado, estava na ansiedade, finalmente iria conhecer e entrevistar Max Wilson.

Cheguei ao prédio, um prédio bonito, pintado num leve tom de vermelho. Parei em frente a portaria e pedi ao porteiro que me anunciasse, eram quase meio dia, o sol estava a toda, eu suava feito um porco na brasa, e ainda tinha a questão do nervosismo, veja bem, sou um profissional, mais conhecer o herói não é todo mundo que consegue, e eu, estava finalmente conseguindo. O porteiro apertou um botão e a porta eletrônica abriu. Me falou que o apartamento ficava no terceiro andar, eu meu dirigi Hall do prédio, cheguei ao elevador, apertei o botão de subida e aguardei alguns instantes, o elevador havia finalmente chegado, de dentro saiu uma velha com cara de lesma com sal, ela me disse bom dia, eu respondi e pude perceber dentes medonhos naquela boca, fiquei jururu e mais nervoso do que já estava, entrei, apertei o botão que indicava o terceiro andar, a porta se fechou, o elevador começou a subir e parou no andar indicado, sai fui até o apartamento 20 e toquei a campainha, aguardei um pouco e finalmente a porta se abriu, e lá estava Max Wilson, vestindo uma bermuda amarela, uma camiseta branca com um desenho de aves e chinelo de dedos.

- Olá!

- Olá. Eu respondi com a voz um pouco tremula.

Fiquei olhando em seus olhos, e pude perceber o brilho de sua alma através dele, ele tinha uma cara horrível, cheia de furos, parecia até areia mijada, o cabelo nascia de forma descompassada, um fio caia na testa de um jeito engraçado e um tanto triste, mais em seus olhos via-se vida, via-se uma alma de alguém vivo.

- Garoto, você vai ficar ai parado me olhando ou vai tratar de entrar?

Entrei, ele me indicou a sala, me sentei no sofá.

- Você bebe?

- Sim senhor!

- Senhor? Por Deus, quem resolveu mandar você aqui!

Havia começado mal, consegui ganhar já antipatia dele, tremi, mais fiz uma cara de um sujeito durão!

- Me chame de senhor outra vez, e te expulso daqui a pontapés!

- Ok Chefe.

Max Wilson foi até a cozinha, trouxe um pequeno balde de gelo e dois copos, tinha uma geladeira na sala, ele a abriu, pegou uma garrafa de Chivas e me perguntou se eu queria com soda ou água, respondi que com soda era melhor pro meu estomago, ele pegou uma lata de soda e me trouxe, nos sérvio o Whisky colocou duas pedras de gelo em cada um dos copos e me passou um, abri a lata de soda e misturei um pouco ao whisky, virei minha bebida, ele também. Serviu-nos mais uma dose e eu fiz a mistura com a soda novamente, bebemos um trago e nos olhamos.

- Bem podemos começar! Ele me disse.

- Posso tirar uma foto sua antes?

- Claro boneca, fique a vontade!

Tirei algumas fotos, uma dele bebendo o whiky, uma dele fumando e mais algumas dele bebendo sentado.

- Pronto, acho que já está bom. Max Wilson, qual é tua inspiração?

Liguei o Gravador.

- A vida, a dureza, a fome, o sexo, às diarreias, às ressacas, os foras, às brochadas, as surras!

- Pesado não! Seu primeiro romance foi o Enterrado de pau duro, vendeu muito bem, nesse romance você fala sobre um homem que é aposentado e que transa com a empregada de vez em quando e joga algum dinheiro em sua porta depois do sexo. Você passou por algo parecido?

- Na verdade essa é a vida de um conhecido meu só dei o meu requinte, pois no geral a vida dele é como um cagalhão de mosca, ninguém vê, mais existe.

- Depois vieram Amarrado pelo escroto, Um dia pós-dor de barriga e ressaca e o livro de poemas Qualquer imbecil pode se sentar num banco de bar e fingir que está vivendo, todos de maiores sucesso do que o primeiro. Qual o seu favorito?

- Odeio todos.

- Como assim?

- Acho que errei em algum ponto!

- Explique, por favor!

- Muita gente que não sabe nada do que é viver, acha que vive pois leu meus livros, fico meio pra baixo, mas enquanto alguém comprar, terei dinheiro pra beber, então não é tudo perdido, sabe recebo cartão de pessoas do país inteiro que querem me conhecer, beber comigo, mulheres que querem trepar e essas coisas.

- Você responde essas cartas?

- Só das mulheres que querem trepar!

- Você já foi casado duas vezes, o que aconteceu?

- No geral, quando se tem minha aparência e vive-se como eu vivo, sempre sai algum tipo de merda, só encontro mulheres loucas e que são possesivas, minha primeira mulher a Valéria era completamente desajustada, no começo era tudo lindo, ela fazia ovos mexidos e torradas de manhã, pura balela, depois de um tempo, ela mostrou ser mulher, e mulher é tudo igual.

- Dizem que você é racista, isso é verdade? tem algo contra os negros?

- Nada contra, os negros são legais.

- Você tem preconceito?

- Todos temos não é mesmo!

- O seu último romance Noites mal dormidas e xoxotas mal comidas, recebeu boas críticas, você está sendo fortemente comparado a Nelson Rodrigues e Jorge Amado, o que acha disso?

- Não acredito em críticos, críticos são os frustrados que criticam os outros com a única intenção de nos colocar pra baixo, são como vermes, parasitas que não tem utilidade, nem elogios deles me deixam de forma melhor ou pior, fico indiferente sempre.

Ele virou sua bebida, eu virei a minha, Max Wilson nos serviu mais, coloquei no meu mais um pouco de soda, a soda acabou, ele me ofereceu mais, disse que não precisava que eu beberia puro mesmo.

- Acha que sua escrita tem a essência de algum escritor?

- De todos um pouco!

- Fante, Mailler, Celine, Bukowski, Kerouac?

- Sim de todos um pouco!

- Já leu Crepúsculo?

- Não, mas deve ter algo dele no meu livro!

- Gosta de Paulo Coelho?

- O acho fraco e tedioso, só consegui ler alguns trechos de alguns livros, não tenho saco pra ele!

- Ele é o escritor brasileiro que mais vendeu livros.

- A Dilma também foi eleita por maior parte da população e nem por isso acho que ela é boa!

- O que acha sobre política?

- Não me envolvo em nenhuma causa, odeio todas às causas na verdade.

- Você tem vaidade?

- Não, e também não tenho nada além desse apartamento, não compro roupas, não tenho carro, gasto meu dinheiro com a vida!

- O que você quer dizer por vida?

- Bebidas e prostitutas.

Ele virou seu drink, eu virei o meu, nos serviu novamente, eu dessa vez comecei a beber puro.

- Bem, Max Wilson, o que você tem a dizer para os seus leitores?

- Continuem comprando meu livros.

A entrevista encerrou, já passavam das duas da tarde, matei meu quarto copo. Ele matará o dele.

- Você trabalha bem nas bebidas garoto!

- Faço o possível, a bebida e a música são às únicas coisas que me fazem sentido!

- O que achou dos meus livros?

- Você fez minha cabeça!

Bebemos toda a garrafa, fumamos e falamos sobre bocetas, músicas, e preocupações modernas, Max Wilson não era um homem amargurado com tudo que já tinha passado na vida, os olhos dele brilhavam pra valer, ele tinha alguma coisa, mais eu também tinha, eu me sentia vivo perto dele, ele era um grande escritor, um grande cara. Ele me falou sobre às ideias da sua novela, e me confidenciou que já estava escrevendo, o romance era sobre um cara que trabalha numa gráfica e vive como um robô, e só consegue transar com prostitutas de luxo, eu disse que seria um grande livro, resolvi ir embora, já eram quatro da tarde, não queria pegar o rush paulistano.

- Bem Max Wilson, mandaremos uma cópia da revista, sua entrevista já sai na próxima edição.

- Ótimo garoto, manda ver.

- Tchau.

- Tchau.

Apertamos às mãos como cavalheiros, eu me virei e chamei o elevador, ele ficou na porta me olhando e fumando seu cigarro. O Elevador chegou, abri a porta, estava entrando e Max Wilson me chamou.

- Garoto.

- Oi?

- Vá Pegá-los!

- Certo Max...

Depois de dizer isso me senti mais vivo do que nunca, eu sabia o que ele queria me dizer. Entrei no Elevador, apertei o botão que indicava o térreo, estava meio alto.

Eu havia finalmente conhecido meu herói, bebi com ele, estava meio alto, mais feliz. Sai do prédio, andei quatro quadras em direção ao meu carro, entrei nele dei partida e fui embora.
Na marginal estava um transito bem forte pro horário, fiquei emburrado, acendi um cigarro e dirigi a 10 km por hora durante um bom tempo, iria demorar pra chegar em casa aquele dia.

sábado, 8 de outubro de 2011

Um fracasso de qualquer forma

Dois macacos jogam baralho.
Eu paro em frente, boca semi aberta, não acredito no que vejo.
Eles me olham, param de jogar e me convidam pra sentar.
Olho, não tem cadeira, pisco, e uma cadeira ao meu lado aparece.
Arregaço às mangas e me sento.
Eles me dão às cartas, o jogo é 21.
Perco na primeira mão, perco na segunda e suscetivamente até a sexta.
Meu dinheiro acaba, me levanto e desisto. Sou um fracasso!

Abro os olhos, estou deitado em minha cama,
solto um peido, fétido, enxofre puro. Sorrio.
Vejo um copo com um restante de vodca ao lado da cama,
bebo em uma unica talagada.
Cubro a cabeça, penso no fracasso que sou, durmo novamente.