terça-feira, 19 de novembro de 2013

Aos 28 anos, senti inveja!

O relógio marcava 18hr17, eu estava sofrido em frente ao mercado próximo do meu trabalho fumando um bom Lucky Strike, os tragos eram ao mesmo tempo nervosos e cansados. Era sexta-feira, havia trabalhado a semana inteira, estava em frangalhos, trabalhar das 08hr00 Às 18hr00 todos os dias e levar quase duas horas para ir e mais quase duas horas para voltar estava me matando. Dei o último trago daquele cigarro, joguei ao chão e pisei, pisei como se estivesse pisando na cabeça de todos aqueles que fodiam com a minha vida. Entrei no mercado para comprar uma cerveja.
Caminhava a passos lentos dentro do mercado, olhando todas às gôndolas, prateleiras e a merda toda que tem nesses lugares, o mercado estava vazio, Graças ao bom DEUS, odiava aglomerados de pessoas e odiava mercados, quando tinha que ir em um, quanto menos pessoas, melhor e mais saudável.
Estava no corredor das bebidas, fui direto ao freezer de cervejas, peguei duas latas de Skol, era tudo o que meu misero dinheiro pagaria, estava duro, mas pelo menos iria sentir um pouco do gosto da felicidade, alguns jovens de boa aparência entraram no corredor, eles sorriam homens e mulheres, com sorrisos brancos, cabelos bem cortados, roupas caras, estavam muito bem alimentados. Eram todos uns belos pedaços de carne. Instantaneamente me senti um completo trapo. Eles pareciam muito felizes, aqueles caras tinham tudo, dinheiro, mulheres, bons estudos, viagens, celulares da moda, automóveis. Tinham cara de que nunca haviam passado necessidade alguma, que tinham tudo de forma fácil, e pela primeira vez em 28 anos me senti com uma inveja. Eu era um caco, havia passado fome inúmeras vezes, nunca tinha dinheiro o suficiente para nada,  meus dentes estavam amarelados, meu cabelo precisava de um corte, minhas camisetas estavam manchadas no sovaco por causa de desodorante barato, minha barriga estava molenga e eu estava tão inchado que até a Pâmela Anderson teria inveja dos meus peitos, eu era a típica personificação da desgraça humana. Não me lembrava ao certo da época em que tinha uma boa aparência, garotas e vivia com minha mãe. Havia perdido todas às coisas boas que conquistei. Bebidas e cigarros me consumiam assim como cagalhões consomem o Rio Tiete. Aqueles jovens pegando cervejas importadas e whiskeys estavam me dando nos nervos, virei às constas e fui em direção ao caixa com a cabeça baixa.
“Diabos o que está acontecendo comigo? Sempre caguei para tudo e todos! O que mudou?” Pensei de forma triste, estava depressivo com certeza aquele dia, com certeza era a falta de dinheiro que me consumia.
Escolhi um caixa, relativamente vazio, uma pessoa passando no caixa e outra na minha frente, com um cesto com ovos, queijos, manteigas, torrada, alface, sucos e algumas maças. Fiquei olhando para o pacote com maças e tentando adivinhar quantas tinham para tentar distrair a minha mente, estava quase tendo êxito, já pensando em um bom som quando chegasse em casa, pensando em tirar minhas roupas, cagar, tomar uma chuveirada, e ficar deitado de cueca olhando para o teto  até pegar no sono. Meus pensamentos foram interrompidos por risinhos, olhei para trás e lá estavam os jovens bem alimentados, com alguns cestos com boas garrafas de bebidas, cervejas e falando sobre a faculdade de medicina, minha cabeça estava consumida por inveja, ódio e qualquer outro sentimento, qual era a justiça divina? Eu nunca tive as oportunidades de ter 1/3 da vida deles, eu nunca teria o conhecimento que lhes foi dado, eu nunca teria o dinheiro para ser um médico, fisioterapeuta, dentista. Talvez eu até fosse um excelente cirurgião se tivesse tido às chances, mas eu jamais saberia, nunca iria ter aquela vida, nunca teria um corte de cabelo tão descolado, bons jeans, automóveis do ano, o melhor estudo, experiências internacionais.
Minha vez de passar no caixa chegou.

- Nota fiscal paulista?
- Sim. - Respondi secamente.
- Pode digitar!

Digitei todos os números, apertei o enter e olhei os números novamente para confirmar, estava correto, iria faturar meu centavo do governo, apertei o enter novamente. A Caixa passou minhas duas latas.

- R$5,38, qual a forma de pagamento?
- Dinheiro.

Abri minha carteira, peguei uma nota de cinco e uma de dois e lhe entreguei.

- Seu troco, obrigado e boa noite!

Fiz um leve aceno com a cabeça e sai andando, deixando para trás os bem alimentados. Me restava na carteira R$1,60, ela não me devolveu 2 cents. Peguei um cigarro, acendi, traguei e expeli a fumaça azulada do meu cigarro, abri uma das latas e bebi numa talagada, abri a outra e fui em direção ao metro. O caminho ainda seria longo.

4 comentários:

Edu disse...

Que bosta de conto.

Ainda pior que aquela merda de blog sobre bacon.

Pena que não dá pra ganhar meu tempo de volta, nem digitando meu CPF.

Maycon Luzan disse...

Edu, obrigado pela sinceridade, por favor não perca seu tempo mais lendo esse blog!

Tiago Figana disse...

a vida é triste

Indalécio A. de Oliveira disse...

Porra velho....volte a escrever...esse tipo de crônica faz falta....tudo na sinceridade, sem frescuras...assim como a arte popular tem de ser...
Valeu por dividir com a gente seus pensamentos...