O relógio marcava 18hr17, eu estava sofrido em frente ao
mercado próximo do meu trabalho fumando um bom Lucky Strike, os tragos eram ao
mesmo tempo nervosos e cansados. Era sexta-feira, havia trabalhado a semana
inteira, estava em frangalhos, trabalhar das 08hr00 Às 18hr00 todos os dias e
levar quase duas horas para ir e mais quase duas horas para voltar estava me
matando. Dei o último trago daquele cigarro, joguei ao chão e pisei, pisei como
se estivesse pisando na cabeça de todos aqueles que fodiam com a minha vida.
Entrei no mercado para comprar uma cerveja.
Caminhava a passos lentos dentro do mercado, olhando todas às
gôndolas, prateleiras e a merda toda que tem nesses lugares, o mercado estava
vazio, Graças ao bom DEUS, odiava aglomerados de pessoas e odiava mercados,
quando tinha que ir em um, quanto menos pessoas, melhor e mais saudável.
Estava no corredor das bebidas, fui direto ao freezer de
cervejas, peguei duas latas de Skol, era tudo o que meu misero dinheiro
pagaria, estava duro, mas pelo menos iria sentir um pouco do gosto da
felicidade, alguns jovens de boa aparência entraram no corredor, eles sorriam
homens e mulheres, com sorrisos brancos, cabelos bem cortados, roupas caras, estavam
muito bem alimentados. Eram todos uns belos pedaços de carne. Instantaneamente
me senti um completo trapo. Eles pareciam muito felizes, aqueles caras tinham
tudo, dinheiro, mulheres, bons estudos, viagens, celulares da moda, automóveis.
Tinham cara de que nunca haviam passado necessidade alguma, que tinham tudo de forma
fácil, e pela primeira vez em 28 anos me senti com uma inveja. Eu era um caco,
havia passado fome inúmeras vezes, nunca tinha dinheiro o suficiente para
nada, meus dentes estavam amarelados,
meu cabelo precisava de um corte, minhas camisetas estavam manchadas no sovaco
por causa de desodorante barato, minha barriga estava molenga e eu estava tão
inchado que até a Pâmela Anderson teria inveja dos meus peitos, eu era a típica
personificação da desgraça humana. Não me lembrava ao certo da época em que
tinha uma boa aparência, garotas e vivia com minha mãe. Havia perdido todas às
coisas boas que conquistei. Bebidas e cigarros me consumiam assim como
cagalhões consomem o Rio Tiete. Aqueles jovens pegando cervejas importadas e
whiskeys estavam me dando nos nervos, virei às constas e fui em direção ao
caixa com a cabeça baixa.
“Diabos o que está acontecendo comigo? Sempre caguei para
tudo e todos! O que mudou?” Pensei de forma triste, estava depressivo com
certeza aquele dia, com certeza era a falta de dinheiro que me consumia.
Escolhi um caixa, relativamente vazio, uma pessoa
passando no caixa e outra na minha frente, com um cesto com ovos, queijos,
manteigas, torrada, alface, sucos e algumas maças. Fiquei olhando para o pacote
com maças e tentando adivinhar quantas tinham para tentar distrair a minha
mente, estava quase tendo êxito, já pensando em um bom som quando chegasse em
casa, pensando em tirar minhas roupas, cagar, tomar uma chuveirada, e ficar
deitado de cueca olhando para o teto até
pegar no sono. Meus pensamentos foram interrompidos por risinhos, olhei para
trás e lá estavam os jovens bem alimentados, com alguns cestos com boas
garrafas de bebidas, cervejas e falando sobre a faculdade de medicina, minha
cabeça estava consumida por inveja, ódio e qualquer outro sentimento, qual era
a justiça divina? Eu nunca tive as oportunidades de ter 1/3 da vida deles, eu
nunca teria o conhecimento que lhes foi dado, eu nunca teria o dinheiro para
ser um médico, fisioterapeuta, dentista. Talvez eu até fosse um excelente cirurgião
se tivesse tido às chances, mas eu jamais saberia, nunca iria ter aquela vida,
nunca teria um corte de cabelo tão descolado, bons jeans, automóveis do ano, o
melhor estudo, experiências internacionais.
Minha vez de passar no caixa chegou.
- Nota fiscal paulista?
- Sim. - Respondi secamente.
- Pode digitar!
Digitei todos os números, apertei o enter e olhei os
números novamente para confirmar, estava correto, iria faturar meu centavo do
governo, apertei o enter novamente. A Caixa passou minhas duas latas.
- R$5,38, qual a forma de pagamento?
- Dinheiro.
Abri minha carteira, peguei uma nota de cinco e uma de
dois e lhe entreguei.
- Seu troco, obrigado e boa noite!
Fiz um leve aceno com a cabeça e sai andando, deixando
para trás os bem alimentados. Me restava na carteira R$1,60, ela não me devolveu
2 cents. Peguei um cigarro, acendi, traguei e expeli a fumaça azulada do meu
cigarro, abri uma das latas e bebi numa talagada, abri a outra e fui em direção
ao metro. O caminho ainda seria longo.
4 comentários:
Que bosta de conto.
Ainda pior que aquela merda de blog sobre bacon.
Pena que não dá pra ganhar meu tempo de volta, nem digitando meu CPF.
Edu, obrigado pela sinceridade, por favor não perca seu tempo mais lendo esse blog!
a vida é triste
Porra velho....volte a escrever...esse tipo de crônica faz falta....tudo na sinceridade, sem frescuras...assim como a arte popular tem de ser...
Valeu por dividir com a gente seus pensamentos...
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