terça-feira, 25 de março de 2008

COMA, DURMA E QUANDO ACORDAR, DESCANSE!

- Porra! Mais um dia nesse trem lotado cheio de gente fedida, só para ir ao trabalho e ganhar setecentos conto! - pensei.

Mais uma estação passa e umas nove pessoas entram de forma bastante desordenada. Continuei em meus pensamentos: "Porra, vou engravidar deste jeito, com tanto homens atrás de mim! Ao menos se eles fossem cheirosos, mas não! Parecem que passam suas fezes no corpo antes de entrar no trem para trabalhar!"

Cheguei ao trabalho durante uma viagem de mais de uma hora em pé. Parei em frente a empresa totalmente tristonho e me lembrei de como era bom quando chegava a escola e cabulava, como era bom ter uma única preocupação que era a de brincar, sem dívidas, sem chefes com bafó de urubu. Olhei novamente para a entrada do prédio em que trabalhava e decidi não entrar, "dane-se" pensei.

Começei a caminhar pelo centro de São Paulo em busca de um bar aberto às oito horas da manhã. Passei pelo viaduto do Chá e cheguei em frente à Galeria do Rock. Encontrei um bar de um português porco. O bar era grande e tinha uma parede de vidro que dava para o prédio ao lado. Fiquei olhando as garotas passarem com suas calças apertadas e seus belos decotes.
"como gosto de um par de seios" , e pedi ao dono do bar um conhaque para começar o dia. Bebi meu drink de uma só vez e pedi o segundo enquanto pegava o meu celular para ligar para o seu chefe.

- Maplam Acessória Contábil, bom dia.

- Bom dia, aqui é o Andrei, gostaria de falar com o senhor Pedro.

Pedro era o meu chefe. Um cara baixo de meia idade careca e com uma pança do tamanho do mundo. Cheirava a queijo podre de tanto que suava por baixo daqueles seus ternos grossos e feios.

- Vou transferir, só um momento - disse a voz do outro lado da linha.

Aguardei alguns segundos e logo a voz grossa e imponente do meu patrão estava do outro lado da linha.

- Andrei aonde diabos você está? - disse Pedro com uma voz de nervosismo.

Decidi não mentir não havia motivo para isso pois odiava muito o meu emprego e para o inferno com ele.

- Resolvi não entrar nem hoje e tambem não entrarei nunca mais.

- O quê? Mas você tem algumas planilhas para entregar e não pode sair dessa forma!

- Quanto às planilhas, fique tranquilo: não fiz. E posso sair a hora que quiser! - eu disse enquanto virava o meu segundo drink da manhã.

Desliguei o telefone e tive uma sensação maravilhosa. Resolvi andar pela cidade, em busca de mais tragos, já que o maldito portuga, o dono do bar, se recusara a me dar a terceira bebida e ainda tentara me aplicar um sermão. Não deixei ele falar mais de duas palavras. Paguei e virei as costas em direção à rua. Perambulei durante horas e por muitos lugares. A hora do almoço estava chegando e meu estômago, roncando feito um porco sendo degolado, me alertou que deveria comer algo. Parei em uma casa de esfihas, fiz meu pedido juntamente com um chopp e aguardei. Enquanto aguardava, ouvi um debate na mesa ao lado entre um casal que me chamou a atenção:

- Moreko a massa da esfiha é igual a da pizza né? - perguntou a mulher.

- Acho que sim, moreko! - devolveu o rapaz sem dar muita atenção.

Chegou o meu pedido e comecei a comer, mas ainda estava prestando atenção na corversa dos casal ao lado.

- Então uma esfiha é uma mini-pizza, certo? - disse a mulher.

- Não, de jeito nenhum! Esfiha é esfiha e pizza é pizza e come logo!

- Por qual motivo será que não tem pizza de carne, hein moreko?

- Porque pizza tem molho de tomate e esfiha não! E como logo! Quero ir embora, e para de ficar perguntando essas coisas! A discussão continuou rolando durante um bom tempo e eu prestanto atenção até quando os dois se levantaram e foram embora. Pedi mais um chopp e tomei em uma única talagada. Paguei a conta e fui embora. Entrei no metrô que por volta da hora do almoço não estava tão lotado e fui para minha casa pensando como seria bom ser um vagabundo para o resto de minha cretina existência. Não tinha mulher, era feio, e era um bêbado.

"ao menos a bebida me salva e me acompanha".

Desci na estação da Barra Funda agora tambem com nome de time de futebol e sai para minha fodida baldeação. Entrei no trem com destino Itapevi, quando encontrei um amigo.

- Andrei como está você meu velho?

- Bem, muito bem. E agora sou vagabundo!- dei um sorriso malandro.

- Roger o que acha de descermos em Osasco e irmos tomar alguns tragos?

Roger era meu amigo dos tempos de escola e era um cara bacana. Já haviamos tomados muitos drinks na época da escola e chegamos a entrar bêbados na sala de aula por diversas vezes.

- Claro, por que não? - disse Roger.

Descemos em Osasco. Acendi meu L&M e começamos a caçada por um bar. Encontramos um bar de um chinês, dono da cara mais feia que eu já havia visto em meus vinte e três anos de vida. Fiquei muito impressionado com o tamanho de suas orelhas, nariz e boca, eram muito grandes e mau cabiam em sua pequena cabeça. Tinha um cabelo escorrido e bastante oleoso com um aspecto bastante bizarro. Bebemos muita cervejas e bebidas quentes e falamos sobre nossa vidas cretinas. Falei a ele que queria viver apenas do meu violão e de minha música. Tocava bem e tinha grandes influências musicais, 'pelo menos sabia fazer algo' - pensei com um sorriso no canto dos labios - a bebida começou a fazer efeito e me sentia cada vez mais bêbado. Pedi um salgadinho Torcida para enganar o meu estômago e continuar com a minha bebidinha.

Já era noite e Roger se despediu. Andei um pouco em Osasco e algumas putas mexeram comigo. Não dei atenção pois a grana que gastaria com elas poderia me proporcionar uma tarde de bebedeira. Pensei que queria viver como um vagabundo comendo, dormindo e quando eu acordasse, descansaria e beberia alguns tragos e durante a noite, eu tocaria Eric Clapton, Jimmy Hendrix, Steve Vai e ganharia alguns trocados.

Fui para casa, fui a cozinha e abri a geladeira e lá estava uma última lata de Skol à minha espera. Olhei a lata, peguei, abri com todo cuidado e dei uma boa talagada. Acendi um cigarro, fui para o quarto, liguei a televisão e estava passando um filme do Charles Brownson na TV a cabo.
Matei minha cerveja, fumei meu cigarro, toquei uma punheta em homenagem às garotas de decote que tinha visto pela manhã, desliguei a TV e disse em voz baixa:

- Amanhã irei comer, dormir, beber e bater punheta e essa será minha vida.

Um comentário:

wendell penedo disse...

Ótimo texto cara. Qualquer maldito salafrário trabalhador gostaria muito de mandar um Pedro enfiar as planilhas no cu e sair pra tomar uma no bar do China. E o pior é que, por não fazer isso, esse tipo de texto é um alívio.