Selecionei o texto mais uma vez e apertei a tecla delete, o texto inteiro apagado, jurei por Deus que se tivesse que apertar mais uma vez aquela maldita tecla iria parar de escrever aquele maldito poema. Pensei um pouco em coisas estúpidas e sem sentido coçei meu peito e comecei novamente a digitar, o poema saia de forma suave e tão bem como nunca (exagero da minha cabeça) estava começando a me empolgar a os versos estavam ficando realmente bons, até que começou a se tornar vago, sem sentido, medíocre, péssimo.
- Diabos não consigo mais, puta que me pariu, bosta!
Desde que havia publicado meu livro não conseguia mais escrever nada e isso já fazia 6 meses, escrevi a minha vida toda todos os tipos de textos mas agora depois que finalmente havia conseguido publicar algo, não conseguia sequer escrever uma anedota, havia me tornado um escritor estúpido e isso me deixava em frangalhos. Selecionei o texto e apertei o delete, fiquei olhando a tela branca mais alguns segundos, desliguei o computador e levantei me sentindo muito melhor.
Fui rumo a cozinha, acendi a luz e vi uma geladeira azul clara e parades beges devido a crosta de gordura que ali havia se instalado, o chão estava grudando a a pia cheia de louça suja e restos de comida começava a me causar um mau estar, porem sou forte e posso superar.
- Vou mandar a faxineira vir aqui ainda essa semana. – pensei.
Abri a geladeira olhei durante alguns instantes, peguei uma lata e cerveja e presunto, abri a lata dei uma boa talagada enquanto preparava um sanduíche de presunto gordo e mostarda, comi rapidamente pensando por qual motivo não conseguia mais escrever nem se quer uma carta, abri outra cerveja e peguei uma garrafinha de Vodca, pensei em como eram os meus velhos tempos de dureza com Bavária e Vodca barata, agora bebia Absolute e acho que isso é que estava me impedindo de escrever tão bem como antes, era muito mais fácil escrever com o estomago vazio do que com ele cheio, já havia sido comparado a Bukowski e Hemingway e agora nada mais de nada saia da minha cabeça, peguei minhas bebidas e fui em direção ao sofá na sala que estava velho e estourado com furos de cigarro e manchas de bebidas, sentei e bebi a Vodca em um único gole fiz uma careta dei um trago da cerveja e puxei um cigarro, acendi meu Lucky Strike e fiquei olhando a fumaça azul subir de forma descompassada e lentamente no meio da escuridão, fui a janela do meu apartamento na região do Paraíso e fiquei observando a vinte e três de maio sentido ao parque do Ibirapuera fiquei olhando a rua e às pessoas passando, tive um embrulho repentino no estomago baixei a cabeça e vomitei no parapeito da janela de 2 andares abaixo, parecia que estava vomitando até os meus bagos, acabei de expelir meu estomago pela boca e fui me deitar com uma dor de cabeça horrível tendo certeza que foi a comida que me fez mal e não a bebida. Dormi cerca de duas horas, acordei com o toque da campainha, fechei os olhos novamente mas a campainha também insistiu em tocar, olhei para o teto e para a escuridão que estava tomando conta do local e soltei um urro de raiva e sentei.
- Quem é? - gritei de forma raivosa por estar sendo acordado!
- Max, sou eu abre ai cara!
- Eu quem inferno? Por acaso tenho bola de cristal?
- Sou eu cara o Luizão...
Praguejei minha vida por ter pessoas que me conheciam, odeia às pessoas principalmente às que batem a porta da minha casa. Me levantei sem vontade e esforço algum, sabia que devia ser alguma coisa muito idiota. Abri a porta e lá estava ele com uma cara engraçada e um pulôver azul claro, calça de moletom e sandálias estilo Moisés, usava um chapéu na cabeça bastante constrangedor e de uma cor que eu não consegui identificar. Luizão entrou e logo foi pegando seu Derby vermelho e acendendo e fazendo uma expressão de sabedoria, pura enganação pois ele era tão inteligente quanto um mosquito e tinha realmente a aparência de um nada.
- Droga Max, minha mulher me expulsou de casa e não me deixou nem pegar meu rádio.
- Isso realmente iria acontecer um dia.
- Disse indo em direção da geladeira e pegando uma cerveja (para mim claro).
- Mas ela me expulsou cara, meu rádio está lá, ele foi um presente da minha Tia Avó. Posso usar seu telefone?
- Merda, use mais seja breve!
Ele pegou um papel de pão que estava no bolso de sua calça e discou um número, eu fiquei olhando para ele enquanto bebia minha cerveja com bastante vontade, ele aguardou alguns segundos e começou a falar.
- Florzinha, me deixa entrar em casa pô!
- Mas...
- Caiu? - perguntei logo após virar o último gole da minha cerveja com um sorriso de escarnio e já acendendo um cigarro.
- Ela desligou, merda o meu rádio era um presente...
Levantei fui à cozinha novamente e peguei mais uma cerveja (para mim novamente), sentei e fiquei observando aquele merdinha.
- Pô, meu rádio, eu preciso dele foi um presente da minha Tia Avó eu preciso que ela me devolva!
- Você já me disse isso! - respondi já um tanto irritado pela situação e por ele estar ainda na minha casa.
- Mas era meu rádio. - ele disse com os olhos marejados enquanto sentava no meu sofá e olhava para o teto.
- Posso te ajudar em alguma coisa? – perguntei na verdade não sei por qual motivo e já me arrependento de ter feita a pergunta.
- Sim sim claro amigão, posso ficar aqui com você? nós dois vai ser o maior barato. E ficou me olhando com aquele olhar sem vida.
- Acho que não, iria estragar nossa amizade.
- Mas eu sou organizado e posso fazer a faxina.
- NÃO!
- Mas eu sou seu amigo e posso limpar sua casa.
- Não tenho amigos, e tenho uma faxineira, agora se me der licença tenho que trabalhar. Levantei em direção a porta virei minha cerveja em uma talagada, virei a chave e escancarei a porta dizendo um saudoso TCHAU. Ele se foi, me senti ruim por uns segundos por ele sair e não ter onde ficar, mas começei a pensar em outras coisas e logo fiquei bem, fui até a cozinha peguei mais uma cerveja e me sentei para escrever, liguei o computador e às palavras vinham suave enquanto bebia minha cerveja calmamente, o texto seguia na tela do meu computador, acendi um cigarro puxei uma longa tragada, tomei um gole da minha cerveja, suspirei e continuei escrevendo por toda a noite, e finalmente saiu alguma coisa.
quarta-feira, 4 de março de 2009
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